sábado, 12 de março de 2016

Faz-nos falta admirar



"[...] Em Portugal não se admira, ou se faz um elogio tão grande do género «este é o maior escritor do século», que se torna irreal, ou se entra na fulanização"

José Gil, filósofo português


Não pretendo aqui fazer uma análise sociológica das características ou dos defeitos dos portugueses. Não me compete, nem me sinto habilitada para tal. Apenas me interessa sublinhar um pequeno episódio acontecido comigo esta semana, que me deixou desgostosa e com uma certa amargura por constatar que não é a primeira, nem a segunda, e nem será certamente a última vez, que vejo este sentimento pequenino nas pessoas.

Numa conversa banal e completamente informal com um colega de trabalho referi que um conhecido de ambos tinha acabado de conseguir um lugar de destaque em termos profissionais. O que se seguiu como reação por parte do meu interlocutor nada tem que ver com admiração e satisfação pelo feito da pessoa de quem falávamos. O que se seguiu foi imediatamente uma apreciação crítica e depreciativa, destacando com total subjetividade um alegado defeito dessa pessoa como a única razão possível para a sua promoção. É este o ponto que me interessa. Apoiando-me apenas na minha própria experiência de relação com os outros e sem querer entrar em generalizações perigosas, constato este tipo de sentimento com alguma frequência, como se, para certas pessoas, fosse sempre absolutamente impossível atingir um qualquer cargo profissional por mérito, esforço, empenho e trabalho.

Não quero ser ingénua, haverá com certeza situações em que tal acontece. Mas é preciso ter a limpeza de espírito e a supracitada capacidade de admirar, de que fala José Gil, para podermos genuinamente ficar impressionados com as conquistas dos outros e, com gosto, podermos elogiar as capacidades, as virtudes e as singularidades dos que connosco se vão cruzando na vida. Mesmo num mundo tão competitivo como o que vivemos, nem todas as vitórias dos outros impedem as nossas. Apenas nos retiram a energia e o tempo que perdemos a dizer mal.

Prefiro acreditar que crescemos juntos e enriquecemos também, e muito, com o sucesso dos que estão à nossa volta. Este, sim, é um sentimento construtivo e inspirador.

[ Créditos citação José Gil | aqui ]
[ Créditos citação Simone de Beauvoir | aqui ]


[ Créditos imagem | manhãs perfeitas ]


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