A XXXI edição dos Jogos Olímpicos está a decorrer na maravilhosa cidade do Rio
de Janeiro, no Brasil, desde o dia 5 e vai terminar no próximo domingo, dia 21
de agosto. Hoje proponho um olhar mais atento sobre o processo criativo que
permitiu chegar à identidade visual do Rio 2016.
Tudo começou com a abertura de um concurso em abril de 2010
ao qual responderam 139 agências de design. O júri composto por doze
personalidades ligadas ao Comité Olímpico Internacional e ao mundo do design, da comunicação
e do marketing escolheu oito empresas, entre as quais a Tátil Design, que viria
a sair vitoriosa com a apresentação da proposta que hoje conhecemos e que foi oficialmente
apresentada no início de 2011.
Desenhada para representar o encontro entre o espírito
olímpico e a alma carioca (termo afetuoso como são apelidados todos os que
nasceram e vivem na cidade do Rio de Janeiro), a marca criada pela Tátil exigiu
um profundo trabalho prévio de reflexão sobre a cultura local, o espírito
brasileiro e os valores olímpicos. A estratégia definida tinha como objetivo um
resultado final que pudesse ser percebido e compreendido por todos de forma ampla e universal.
O símbolo dos JO do Rio 2016 teve por base um conceito assente
em quatro pilares importantes e significativos – energia contagiante,
diversidade e harmonia, natureza exuberante e espírito olímpico. A imagem foi desenhada tendo estas ideias-chave sempre presentes às
quais os criativos também juntaram, desde os primeiros esboços, a vontade de que este símbolo tivesse
na sua essência uma leitura volumétrica e escultural. O perfil das montanhas da belíssima geografia do Rio de Janeiro,
amplamente reconhecido no mundo inteiro, conduziu a uma imagem que teria de ser
eminentemente tridimensional de modo a ser fiel a esse modelo. Esse sentido
escultural aliou-se harmoniosamente aos valores humanos que caracterizam o povo
do Rio, nomeadamente a forma como recebem calorosamente envolvendo num abraço
quem os visita. É possível perceber no símbolo uma ideia de elasticidade e
envolvência muito evidente nas figuras que dão as mãos umas às outras e essa
característica é magnificamente potenciada pelo uso expressivo de cores
vibrantes. O símbolo representa uma cidade e uma cultura muito coloridas e a
exuberância dessa cor está intimamente ligada também à natureza. Não admira
portanto o quanto o esquema cromático assume neste símbolo um fortíssimo
significado – o amarelo e os laranjas apontam para o sol, para a energia e para a alegria e descontração do
povo brasileiro, o azul exprime uma íntima relação com o mar e o verde remete
para a natureza e as suas florestas.
Curiosamente, e de forma inesperada até para os seus
criadores, o movimento ondulante das figuras do símbolo veio despoletar outra
interessante leitura: ao circular em torno da imagem é possível ver letras e
ler a palavra Rio! Os responsáveis pela Tátil, agradavelmente surpreendidos,
assumiram que “That's something we never imagined."
Em resumo, o símbolo da edição de 2016 dos JO representa a
beleza da cidade do Rio de Janeiro e exibe um manifesto sentimento global de
celebração que sobressai de todo este conjunto de figuras que dançam em
harmonia, exprimindo os valores dos JO – a alegria do encontro dos atletas e dos
povos em torno do espírito olímpico.
Esta abordagem ao design do Rio2016 não ficaria completa sem uma nota especial para o lettering que tão bem acompanha a imagem. Os designers experimentaram muitas e diferentes tipologias de fontes que pudessem conviver com a imagem/símbolo criada, mas cedo perceberam que nenhum lettering já existente poderia resultar em plena sintonia com o desenho. Assim desenharam um logótipo que melhor se articulasse com as curvas e a elasticidade presentes no símbolo. Essas três letras e os quatro algarismos foram depois a base para o desenvolvimento de uma fonte olímpica, única e original.
A Dalton Maag, uma empresa britânica sedeada em Londres e especializada em tipografia, construiu de raiz a fonte para os JO do Rio. Esta agência internacional percebeu desde o início do projeto que o seu processo criativo teria de se desenvolver de forma inversa ao modelo habitual, ou seja, teriam de ter sempre como referência os caracteres do logo já criado, os quais serviriam de matriz para todos os outros. Normalmente quando o designer escolhe a fonte para um logótipo a relação do desenho de cada caractere com os que lhes estão próximos fica fechada com a sua aplicação; neste caso foi necessário desenhar variações da mesma letra para que a sua utilização com todas as possibilidades de ligação entre letras ficasse bem ajustada ao efeito fluído, manuscrito e espontâneo pretendido.
A identidade visual dos JO do Rio 2016 está aí e para mim trata-se de um bom trabalho desde a sua génese. Como muitas vezes acontece, sobretudo com imagens cujo público é tão abrangente como neste caso, logo surgiu uma polémica denunciando um alegado plágio. Na minha opinião, esta acusação não faz qualquer sentido nem por semelhança com a famosa obra de Matisse, nem com o logo da Telluride-Foundation. Há sempre quem goste e aprove como quem não fique satisfeito e critique, mas eu considero que esta é uma marca bem conseguida e que ficará na história gráfica dos JO como exemplo de bom design.
Sem comentários :
Enviar um comentário