quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Rio 2016 :: Design para todos #7


A XXXI edição dos Jogos Olímpicos está a decorrer na maravilhosa cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, desde o dia 5 e vai terminar no próximo domingo, dia 21 de agosto. Hoje proponho um olhar mais atento sobre o processo criativo que permitiu chegar à identidade visual do Rio 2016.



Tudo começou com a abertura de um concurso em abril de 2010 ao qual responderam 139 agências de design. O júri composto por doze personalidades ligadas ao Comité Olímpico Internacional e ao mundo do design, da comunicação e do marketing escolheu oito empresas, entre as quais a Tátil Design, que viria a sair vitoriosa com a apresentação da proposta que hoje conhecemos e que foi oficialmente apresentada no início de 2011.

Desenhada para representar o encontro entre o espírito olímpico e a alma carioca (termo afetuoso como são apelidados todos os que nasceram e vivem na cidade do Rio de Janeiro), a marca criada pela Tátil exigiu um profundo trabalho prévio de reflexão sobre a cultura local, o espírito brasileiro e os valores olímpicos. A estratégia definida tinha como objetivo um resultado final que pudesse ser percebido e compreendido por todos de forma ampla e universal.

O símbolo dos JO do Rio 2016 teve por base um conceito assente em quatro pilares importantes e significativos – energia contagiante, diversidade e harmonia, natureza exuberante e espírito olímpico. A imagem foi desenhada tendo estas ideias-chave sempre presentes às quais os criativos também juntaram, desde os primeiros esboços, a vontade de que este símbolo tivesse na sua essência uma leitura volumétrica e escultural. O perfil das montanhas da belíssima geografia do Rio de Janeiro, amplamente reconhecido no mundo inteiro, conduziu a uma imagem que teria de ser eminentemente tridimensional de modo a ser fiel a esse modelo. Esse sentido escultural aliou-se harmoniosamente aos valores humanos que caracterizam o povo do Rio, nomeadamente a forma como recebem calorosamente envolvendo num abraço quem os visita. É possível perceber no símbolo uma ideia de elasticidade e envolvência muito evidente nas figuras que dão as mãos umas às outras e essa característica é magnificamente potenciada pelo uso expressivo de cores vibrantes. O símbolo representa uma cidade e uma cultura muito coloridas e a exuberância dessa cor está intimamente ligada também à natureza. Não admira portanto o quanto o esquema cromático assume neste símbolo um fortíssimo significado – o amarelo e os laranjas apontam para o sol, para a energia e para a alegria e descontração do povo brasileiro, o azul exprime uma íntima relação com o mar e o verde remete para a natureza e as suas florestas.

Curiosamente, e de forma inesperada até para os seus criadores, o movimento ondulante das figuras do símbolo veio despoletar outra interessante leitura: ao circular em torno da imagem é possível ver letras e ler a palavra Rio! Os responsáveis pela Tátil, agradavelmente surpreendidos, assumiram que “That's something we never imagined."

Em resumo, o símbolo da edição de 2016 dos JO representa a beleza da cidade do Rio de Janeiro e exibe um manifesto sentimento global de celebração que sobressai de todo este conjunto de figuras que dançam em harmonia, exprimindo os valores dos JO – a alegria do encontro dos atletas e dos povos em torno do espírito olímpico.






Esta abordagem ao design do Rio2016 não ficaria completa sem uma nota especial para o lettering que tão bem acompanha a imagem. Os designers experimentaram muitas e diferentes tipologias de fontes que pudessem conviver com a imagem/símbolo criada, mas cedo perceberam que nenhum lettering já existente poderia resultar em plena sintonia com o desenho. Assim desenharam um logótipo que melhor se articulasse com as curvas e a elasticidade presentes no símbolo. Essas três letras e os quatro algarismos foram depois a base para o desenvolvimento de uma fonte olímpica, única e original.

Dalton Maag, uma empresa britânica sedeada em Londres e especializada em tipografia, construiu de raiz a fonte para os JO do Rio. Esta agência internacional percebeu desde o início do projeto que o seu processo criativo teria de se desenvolver de forma inversa ao modelo habitual, ou seja, teriam de ter sempre como referência os caracteres do logo já criado, os quais serviriam de matriz para todos os outros. Normalmente quando o designer escolhe a fonte para um logótipo a relação do desenho de cada caractere com os que lhes estão próximos fica fechada com a sua aplicação; neste caso foi necessário desenhar variações da mesma letra para que a sua utilização com todas as possibilidades de ligação entre letras ficasse bem ajustada ao efeito fluído, manuscrito e espontâneo pretendido.







A identidade visual dos JO do Rio 2016 está aí e para mim trata-se de um bom trabalho desde a sua génese. Como muitas vezes acontece, sobretudo com imagens cujo público é tão abrangente como neste caso, logo surgiu uma polémica denunciando um alegado plágio. Na minha opinião, esta acusação não faz qualquer sentido nem por semelhança com a famosa obra de Matisse, nem com o logo da Telluride-Foundation. Há sempre quem goste e aprove como quem não fique satisfeito e critique, mas eu considero que esta é uma marca bem conseguida e que ficará na história gráfica dos JO como exemplo de bom design.

E neste caso, o design teve o voto favorável da população anónima, o que para um evento de dimensão universal como os JO, é inegavelmente um saboroso elogio!


[ Créditos: Rio2016 | Tátil | Creative ReviewCreativebloq 1 | Creativebloq 2 | 99u | LOGOBR ]


INSTAGRAM   |  FACEBOOK   |  CONTACTO

Sem comentários :

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...